Aborto, divórcios e saudades! Mãe de António Costa chora n’O Programa da Cristina

Maria Antónia Palla esteve à conversa com Cristina Ferreira numa entrevista em que a mãe de António Costa abordou o aborto que fez. Por outro lado, recusou-se a falar sobre a morte da filha.

16 Out 2019 | 8:40
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A vida de Maria Antónia Palla dava um livro. Aliás, já deu, ou não fosse a obra Viver pela Liberdade, que editou em 2014 em coautoria com Patrícia Reis, uma espécie de autobiografia. A mãe do primeiro ministro António Costa esteve esta terça-feira n’O Programa da Cristina, não para falar do filho, mas para folhear algumas páginas dos seus 86 anos.

Há um capítulo, no entanto, que se recusa abordar: a morte da filha, Isabel, vítima de um acidente de viação aos três anos. «Não vamos falar», respondeu, quando a apresentadora da SIC tentou uma primeira (e única) abordagem.

Recorde-se que, em dezembro de 2015, Maria Antónia dizia que perder uma criança «é uma dor que nunca acaba». «É um assunto no qual não tocamos, é muito doloroso e nunca foi ultrapassado», confessava, em declarações à revista Flash!. Já em 2017, ao jornal Expresso, admitia pensar em Isabel «todos os dias» e nunca ter falado muito com Costa sobre a morte da irmã. «Podia ser muito pesado para uma criança saber que já houve outra e que ocupou o seu lugar».

 

Aborto? «Fiz o mais barato. É horrível»

 

Mulher à frente do seu tempo, foi no período pós-25 de Abril que Maria Antónia Palla lutou pela despenalização do aborto. Jornalista desde 1968 e uma das primeiras mulheres em Portugal a exercer a profissão, marcou a agenda feminista ao assinar, em 1976, para a RTP, a reportagem Aborto não É Crime. Há dois anos, contava que esse trabalho a levou a ser «acusada e julgada do crime de ofensa ao pudor e incitamento ao crime e exercício ilegal da medicina».

Foi também àquelas publicações que a mãe de António Costa explicou porque, ela própria, já tinha optado pela interrupção voluntária da gravidez: É «mãe de filho único» e «nada dada às fraldas». «Muita gente engravidava sem ter vontade. […] [O aborto] Era uma coisa horrorosa. Havia dois preços: com ou sem anestesia. Fiz o mais barato. É horrível, é pior do que ter uma criança».

Esta manhã, assegurou a Cristina Ferreira, «apesar de continuar» a envolver-se «em muitas coisas» da sociedade, já não é tão interventiva. Dedica-se, acima de tudo, aos netos, até porque o filho «tem a vida dele». «Vivemos os dois sozinhos muito tempo. Agora, vejo-o muito na televisão, mais do que em casa. Ele não tem tempo, e eu entendo isso. Temos de nos habituar, por muito que nos custe, que eles ganham asas…», contou.

 

«É a perda que incomoda»

 

À comunicadora da Malveira, Maria Antónia Palla recordou que se casou de vermelho e não quis ser acompanhada pelo pai porque «não ia ser entregue a ninguém». «Qual Igreja! Casei-me no registo civil. É um orgulho ser casada em nome da República Portuguesa», atirou.

Esse casamento, o primeiro de três, «acabou pouco depois de o António ter nascido». O divórcio foi dos momentos que mais lhe custaram. «Vivemos e convivemos com uma pessoa durante vários anos. Há a amizade, o amor… […] As pessoas separam-se e não têm de ficar inimigas. Costumo dizer que um bom divorcio é tão bom como um bom casamento», refere.

São precisamente as recordações que a deixam com lágrimas no rosto. «É o passado, percebe?», diz a Cristina Ferreira. «Há saudades… Saudades também dos meus amigos que têm morrido. Isso é uma coisa que pesa muito nesta altura da vida. É a perda que incomoda», desabafa, antes de pedir para não se «alongar» por ser «chorona». «A certa altura, multiplicam-se as partidas das pessoas e estas fazem-nos muita falta. Os amigos são a família que escolhemos», remata.

 

Texto: Ana Filipe Silveira | Fotografias: reprodução redes sociais e SIC
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