Entrevista a Luísa Cruz, a Glória de Nazaré: «Tenho medo de perder a memória»

À TV 7 Dias, a atriz da trama da SIC revela o que pensa da velhice, mas também adianta que não sofre por antecipação. Diz ainda que tem receio de vir a perder capacidades, mas acha isso normal.

26 Abr 2020 | 9:00
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TV 7 Dias – Tem 58 anos. É natural de onde? Que memórias guarda desse lugar?

Luísa Cruz – Sou de Lisboa, de Campolide, e guardo as minhas primeiras memórias desse bairro com muito carinho, pois foi em casa do meu avô que eu nasci.

Estreou-se profissionalmente como atriz aos 23 anos. Viaje até esse dia e descreva-nos como foi e o que sentiu…

Estreei-me no Centro de Arte Moderna, da Fundação Calouste Gulbenkian, numa peça de Pasolini, com encenação do Mário Feliciano. Os nervos eram tantos que estive quase a não entrar em cena. Mas também tive muitas pessoas com quem aprendi muito. Conselhos que retive para o resto da vida.

Não se arrepende de não ter seguido a música, por ser esta a sua verdadeira paixão?

Esta profissão deu-me tanto conhecimento, tantas pessoas extraordinárias, que seria insultuoso e tonto da minha parte estar arrependida.

Se pudesse voltar atrás no tempo, mudava alguma parte da sua vida ou escolhas que tenha feito?

Sim, uma ou outra coisa. Mas, no fundo, são também esses arrependimentos que nos ensinam a viver e a entender melhor quem somos e quem queremos ser.

Sempre disse a todos o que gostaria de dizer ou ficou algum assunto pendente ou algo por acrescentar?

Nem sempre consigo ter as respostas ou palavras certas no momento certo e isso provoca, às vezes, alguma frustração, mas também não fico a pensar muito mais tempo nisso.

Viveu cinco anos no Porto e tinha uma filha pequena em Lisboa, que ficou com o pai. Foram momentos difíceis?

Sim, foi difícil para todos. Mas temos de ir para onde está o trabalho.

Depois de se divorciar não voltou a encontrar o amor?

O meu trabalho é público. A minha vida privada é, como a palavra indica, privada.

Já perdeu amigos, a mãe e o irmão… Como lida com a ausência deles? A morte de pessoas queridas tornou-a diferente?

Neste momento, e porque foi há muitos anos, as pessoas queridas que já não estão fisicamente comigo passaram para um outro estado químico. Vivem, como se fossem um perfume, mas dentro de mim.

Gosta de ter tudo limpo, mas não gosta de cozinhar. Como faz quando a sua filha não está ao fogão?

Quando ela cozinha, eu sou a sua assistente.

«Os atores são crianças a brincar nos jardins dos deuses.» A frase é sua. Ainda pensa assim?

Sim, sempre. Essa frase aprendi-a com a Manuela de Freitas, na minha estreia no teatro. É, para mim, uma das melhores frases sobre esta profissão. Não há nada mais verdadeiro do que a brincadeira de uma criança. A forma como brincam, como acreditam no que estão a fazer ou a dizer, é uma grande lição.

Acha que vai saber envelhecer ou isso vai trazer-lhe algum tipo de angústia? E não me refiro às rugas…

Quando penso em envelhecimento penso em ter saúde. É o mais importante. Sempre. Cuidar agora, hoje.

Pode ser vista na novela Nazaré, na SIC. O que tem a Luísa em comum com a personagem Glória?

A energia e a força de vontade.

Concorda com o desfecho desta personagem?

Sim, acho que acaba tudo bem para ela. Agora está de quarentena obrigatória.

O que tem feito para passar o tempo?

Ler, estar informada e fazer alguns trabalhos manuais que vou oferecer a familiares e amigos, quando puder, para celebrar o reencontro. E pensar que estamos a ter uma oportunidade para repensar a forma como temos vivido e como vamos viver.

Quando retomar o trabalho, o que vai fazer?

A segunda temporada de Nazaré.

A Covid-19 fê-la ver a vida de maneira diferente?

Esta pandemia obriga-nos a isso. E isso, com tudo de terrível que tem, faz-nos refletir, sim. Agora temos saudades de muitas coisas que pensávamos não serem essenciais. Como abraçar ou dar a mão a alguém.

Diz que ter medo e insegurança faz parte da vida. Quais são os seus maiores medos e inseguranças?

Medo de perder a memória, mas isso é normal nesta profissão. Inseguranças e medos tento virá-los a meu favor.

Aprendeu a conhecer-se através da representação. E o que descobriu de si própria?

É um processo gradual e depende dos trabalhos e das pessoas com quem trabalhamos. Fui crescendo sempre bem acompanhada. Descobri que há um mundo interior muito vasto dentro de nós e descobri-lo e partilhá-lo é um prazer.

Pensa na velhice? Isso traz-lhe inquietação ou paz interior?

Claro que penso, mas sem sofrer por antecipação.

Como gostaria de ser recordada?

Não penso nisso. Não é importante pensar nisso, para mim.

 

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Texto: Mafalda Dantas (mafalda.dantas@impala.pt); Fotografias: Arquivo Impala e Divulgação SIC

 

(entrevista originalmente publicada na edição nº 1727 da TV 7 Dias)

 

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