Luís Aleluia em exclusivo: «Perdi muito dinheiro com Bem-Vindos a Beirais»

Em conversa com a TV 7 Dias, o ator diz não compreender como a anterior direção de programas da RTP pôs fim à série, com a qual diz ter perdido «muito dinheiro». E explica-nos porquê.

30 Dez 2019 | 10:35
-A +A

(entrevista originalmente publicada em março de 2019)

Projetada para três meses pelo então diretor de programas Hugo Andrade, a série Bem-Vindos a Beirais acabou por se estender na grelha de programação da RTP1 durante praticamente três anos. Ao todos, foram quatro as temporadas produzidas pela SP Televisão, materializadas em 640 episódios.

O fim da produção que acompanhava o dia-a-dia de Beirais, com a aldeia do Carvalhal a servir de cenário, foi anunciado, em 2016, pela ex-direção de programas da RTP, capitaneada por Daniel Deusdado. O operador público de média dizia, assim, adeus a uma série que levou, em vários dias, o horário nobre do primeiro canal estatal a picos de um milhão de espectadores, números que há muito não eram vistos e que, desde então, nunca mais foram alcançados.

A decisão revelou-se controversa, com vários atores a questionarem o seu fundamento. Luís Aleluia, o primeiro-cabo Júlio Gameiro de Bem-Vindos a Beirais, recorda agora, em exclusivo à TV 7 Dias, esse decreto: «A série saiu do ar e a audiência ficou reduzida aos 200 mil [espectadores] diários que tinha. E ninguém perguntou àquele diretor de programas porque é que tirou um produto que era rentável para uma estação pública.»

 

«Qual é a empresa que vê um diretor deitar fora um milhão e 400 mil clientes e o mantém no lugar?»

 

Luís Aleluia faz questão de realçar que não ficou nem está magoado com os responsáveis que puseram fim à série. «São critérios», continua. Critérios que diz não entender. «Qual é a empresa que deita fora e vê um diretor deitar fora um milhão e 400 mil clientes e o mantém no lugar? Isto não passa na cabeça de ninguém. Isto não existe», frisa.

À TV 7 Dias, Luís Aleluia destaca o impacto que a história de Bem-Vindos a Beirais teve junto do grande público português, algo que a própria RTP reconhece ao tê-la repetido, ao longo dos últimos anos, em vários horários e em vários canais. «É tão verdade que já esteve no primeiro canal à noite, já esteve no primeiro canal à tarde, está no segundo [RTP2, de madrugada], está na [RTP] Memória e já está outra vez à tarde [na RTP1]. Porquê? O produto é mau?!», ironiza.

 

«Perdi muito dinheiro com Bem-Vindos a Beirais»

 

Instado a elencar «duas ou três coisas muito interessantes» de Bem-Vindos a Beirais, Luís Aleluia não hesita: «uma proximidade extraordinária, uma identificação entre o espectador e o local e [o facto de ter tido] muitos atores e muitos técnicos a trabalhar». E acrescenta «uma outra, que muita gente não sabe»: «Bem-Vindos a Beirais serviu de escola a muitos guionistas recém-formados. Muita gente escreveu para ali.»

A título pessoal, confessa à TV 7 Dias, ter integrado o elenco da série «foi muito bom» para o ator de 59 anos. «Beirais foi muito bom para mim porque me apagou a imagem do Tonecas. Apagou, não, mas mostrou que afinal o homem também faz outras coisas. Nós tínhamos uma grande versatilidade de papéis. Por exemplo, o cabo Júlio, a minha personagem, uma vez era sonhador, outra vez era romântico… Tinha vários registos, o que era uma escola extraordinária para mim», admite.

Mas nem tudo se revelou positivo para o ator que se popularizou, precisamente, na série As Lições de Tonecas, que protagonizou com o falecido Morais e Castro, para a RTP, no final da década de 1990. «Em Beirais acabei por perder dinheiro. Ao princípio, só tinha três ou quatro dias de gravação, depois passou a mais, porque o meu núcleo aumentou [na relevância da história]. Passou a cinco dias de gravação. Intensos, Muitas vezes entrava às oito da manha e saia às sete da tarde, oito da noite.»

E completa: «Não me deixava tempo para o meu grupo de teatro, para as minhas produções. Foi bom em termos de trabalho, de visibilidade, mas em termos monetários foi um falhanço. Completamente. Perdi muito dinheiro com Bem-Vindos a Beirais.»

Luís Aleluia não nega ter saudades da televisão. Para já, remata, «ando em digressão com uma peça chamada Saídos da Casca», em que sobe ao palco com Vítor Emanuel com um texto da sua autoria e de Guilherme Leite.

 

Texto: Dúlio Silva | Fotografias: arquivo Impala

 

 

PUB