Ljubomir Stanisic: «Nunca bati nos meus filhos», mas esfaqueou o pai

O famoso chef contou a Daniel Oliveira que a sua infância «morreu» aos 14 anos, quando começou a guerra e lhe deram a primeira arma.

10 Jun 2018 | 10:43
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Ljubomir Stanisic foi o mais recente convidado do programa de Daniel OliveiraAlta Definição. O famoso chef, ‘abriu’ o coração e falou de tudo.

Da vida perfeita que tinha na Bósnia, da guerra que acabou com ela, do pai que só viu cinco vezes em 40 anos e dos filhos, que o ensinaram a compreender e a perdoar o seu pai.

«Era linda linda e maravilhosa vida na Bósnia. Eu jogava basquete. Íamos às montanhas apanhar flores trazer para casa. Passávamos muito tempo no mar, ia muito à pesca…

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«Era mesmo uma vida muito linda. Os meus pais eram trabalhadores do Estado. A minha trabalhava no jornal, o meu pai era diretor das águas da cidade», relembra.

Ljubomir: «A minha infância morreu aos 14 anos»

Mas quando começou a guerra tudo isso acabou. «A minha infância morreu aos 14 anos. Morreu a bicicleta, a bola de futebol, a bola de basquete, foi-se tudo à vida.

«E com 14 anos não sabes nada, és um estúpido. Não há sentimentos. Quando começas a ouvir (exemplifica o som de tiros) não tens noção do que se passa à sua volta.

«Não tens noção se tens revolta, se queres ser guerreiro, se queres ter sentimentos, não fazes ideia de quem és, só queres sobreviver.»

«Com 14 anos recebi primeira arma para ir proteger os velhos»

Foi obrigado a ir para a montanha «proteger os velhos». A mãe e a irmã ficaram na cidade. «A tua obrigação como ser humano é proteger a tua família. Com 14 anos recebi primeira arma para ir proteger os velhos para a montanha. Mas isto não tem sentimentos. Não tem nexo. Não pensas. Vou lá para baixo para perto da mae e irmã? Não, faz aquilo que te é dito», conta.

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Esteve lá dois meses. Onde se alimentava do que apanhava da terra. Sobre se chegou a usar uma arma, o chef preferiu não falar sobre isso. Aos 14 anos «és soldado sem saber disso».

«O meu pai nunca foi um pai carinhoso, nem teve tempo de me dar uma festinha sequer»
Pela guerra esteve sem ver o pai durante mais de 10 anos. Esteve preso na Croácia. Ljubomir nunca teve uma boa relação com ele. Com 11 anos esfaqueou porque bateu tanto na sua mãe que a deixou em coma. Sobre esse episódio não falou nesta entrevista.

«Só consegues perceber o teu pai quando te tornas pai dos teus filhos»

«Nunca me facilitou a vida, nunca foi um pai carinhoso, nem teve tempo de me dar uma festinha sequer. E isso fez-me procurar sempre o amor, dar atenção aos meus filhos. E isso eu lhe agradeço. Levo isto como uma coisa positiva. Toda a vida levei isto pelo lado negativo, tinha ódio. Hoje em dia, tenho uma grande paixão e respeito por ele. Porque isso fez de mim o que sou hoje. E isso eu tenho de reconhecer e fazer as pazes com isso», explica.

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A guerra acabou para Lubo quando tinha 17 anos. Foi trabalhar para uma padaria para ajudar a mãe e a irmã. «Só consegues perceber o teu pai quando te tornas pai dos teus filhos. Eu percebi o meu»
Mais tarde saiu da Bósnia porque «queria uma vida mais feliz». E veio parra a Portugal. Os primeiros tempos não foram nada fáceis nem felizes. Mas hoje é um chef reconhecido e muito feliz ao lado da mulher, Mónica Franco, e dos filhos, Mateus,12 anos, e Luca, de 5. «Sou completamente contra a violência e nunca bati nos meus filhos», confessa.

Ljubomir ficou mais conhecido entre os portugueses depois de ter protagonizado o programa «Pesadelo na Cozinha», onde mostrou o seu mau feitio…

«Os meus filhos não me vêm na televisão»

«Os meus filhos não me vêm na televisão. O mais velho deve ter visto 1 ou 2 programas. Não gostam de ver essa minha faceta. Gostam de me ver no mato, quando fazemos férias de pilas, como lhe chamo», partilha.

«Todos os anos agarro numa caravana, meto os putos lá para dentro, cada um pode trazer o seu melhor amigo, e vamos para o mato. Apanhamos umas ervinhas e umas frutas, um peixinho para grelhar, divertimo-nos para caraças. Fazemos cenas selvagens e completamente loucas. Vamos surfar e nadar, apanhamos ouriços para comer. Acho que é este pai que eles gostam», explica.

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«Sou um pai muito atento, gosto muito deles e dou-lhes muito», diz. Ser pai, ensinou-lhe a entender melhor o seu e perdoar-lhe, confessou.

«Só consegues perceber o teu pai quando te tornas pai dos teus filhos. Eu percebi o meu através dos meus filhos.

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«A vida nem sempre é tão bonita, nem tão bela como acabei de descrever. A vida está cheia de espinhos e granadas e tu como pai não sabes como reagir e cometes erros.

«O meu cometeu erros. E depois de ter filhos, compreendi isso mais um bocadinho. E sentes mais saudades do teu pai.»

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