João Quadros é um dos mais profícuos guionistas de humor da televisão portuguesa. De Herman Enciclopédia a O Programa da Maria, passando pelo saudoso Contra-Informação, até ao reality show falso O Último A Sair, João Quadros faz parte da história do humor português. O guionista de 56 anos, que atualmente escreve a crónica diária da TSF Tubo de Ensaio, interpretada por Bruno Nogueira, fez revelações impressionantes no podcast Link na Bio.
Em entrevista ao humorista Carlos Pereira, João Quadros conta que sofreu abusos físicos na infância. «Sempre fui, desde puto, um gajo revoltado. O meu recorde era ir para a rua todas as aulas. Porque fazia piadas. Fui expulso na pré-primária, com 5 anos. Naquela altura batiam nos miúdos e eu não admitia que me batessem. Levavam-te para uma sala, calças para baixo e davam-te reguadas no cú. Mal aquilo acabou, saltei da mesa para os ombros da diretora. Começo a puxar-lhe o cabelo e fiquei com o cabelo na mão porque ela usava uma peruca», recorda.
Quadros admite ser «um bocado auto-destrutivo» e explica porquê. «Tive uma infância terrível entre os 5 e os 12 [anos] porque vivíamos em casa da minha avó. Ela era alcoólica e odiava-me. Acordava-me a meio da noite e queimava-me com cigarros. Fui torturado durante anos. Hoje em dia seria presa», recorda.
A tortura terminou no dia em que Quadros, já adolescente, enfrentou a avó. «Fui torturado durante anos e nunca contei até chegar aos 12, 13 anos e ter força suficiente para mandá-la para o hospital, para acabar com aquilo. Isso influenciou-me. Há um lado em mim de síndrome de Estocolmo. Como me fizeram mal durante muito tempo, há alturas em que tenho de fazer mal a mim próprio. É uma coisa estúpida mas explicada pelos meus psicólogos».
Carlos Pereira, anfitrião do podcast, conta que o seu avô também o maltratava, amarrando-o a uma árvore. João Quadros argumenta que os abusos levados a cabo pela sua avó eram apenas «um prazer sádico». «Ela não me queimava com cigarros para eu, mais tarde, ser um faquir de grande nível», ironiza.
«Troquei o crossfit pelo tabagismo e pelo alcoolismo»
O segundo casamento, conta ainda João Quadros, levou-o a uma depressão profunda e, depois, à prática intensiva de exercício físico. «Tive uma depressão nos últimos 5 anos, depois do divórcio. O primeiro ano era deitado no chão, a chorar e estava mesmo a precisar… sempre gostei de esforço físico. E estava a precisar de alguém que mandasse em mim. E, nesse caso, o Bruno Salgueiro salvou-me», recorda o guionista.
O guionista conheceu o treinador durante as gravações do programa de humor da SIC, Sal, que foi exibida em 2014. No entanto, conta ainda João Quadros, o crossfit deu lugar a outra prática… um pouco menos saudável. «Troquei o crossfit pelo tabagismo e pelo alcoolismo. É a coisa mais estúpida do mundo», considera João Quadros.
Questionado por Carlos Pereira sobre essa troca, o guionista explica que deixou de «fumar ganza há um ano». «Fumava para aí 15 charros por dia desde os 18 [anos]. No dia em que parei, cheguei a casa e deitei tudo para o lixo. Demorei seis meses a conseguir dormir. Para já, tinha imensos pesadelos e estava ali num semi-sono, nunca adormecia completamente».
ando de um lado para o outro da cama sabendo que tenho capacidade de demolir fdp mas estou na minha caminha Sou mais um que alinha Mereço ser abatido
— Joao Quadros (@omalestafeito) March 6, 2020
a minha consciência deixa-me dormir bem, a minha raiva não me dá hipóteses
— Joao Quadros (@omalestafeito) March 6, 2020
João Quadros é uma das presenças mais ativas do Twitter português, somando inúmeras polémicas com diversas figuras públicas. O guionista admite que, por causa do consumo de álcool, existem posts dos quais, a posterior, não se recorda. «Hoje em dia o que acontece é que nota-se perfeitamente até que altura estou no Twitter normal e, depois, vou ali ao bar ao fundo da minha rua e, quando volto, já é outro João Quadros. No dia a seguir vou lá ver o que é que fiz e a maior parte nem se percebe. Há ali uma transformação. Ainda por cima, quando bebo, bebo». relata.
Texto: Raquel Costa | Fotos: Arquivo Impala
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