Humoristas reagem a polémica de «censura» a Porta dos Fundos

Bruno Nogueira e Nuno Markl saem em defesa do grupo humorístico brasileiro Porta dos Fundos. Em causa está a retirada da Netflix de um sketch de Natal, que satiriza Jesus Cristo.

09 Jan 2020 | 11:09
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O grupo humorístico brasileiro Porta dos Fundos está a ser alvo de «censura». A razão prende-se com um sketch especial de Natal lançado a 3 de dezembro, protagonizado pelos humoristas brasileiros Gregorio Duvivier e Fábio Porchat.

«A Primeira Tentação de Cristo» não caiu bem a alguns grupos religiosos, que criticam a sátira de 46 minutos por nesta Jesus Cristo ser um jovem que terá tido uma experiência homossexual. No sketch é feita ainda referência a Maria e José, como um casal envolvido num triângulo amoroso com Deus.

Perante isto, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro exigiu esta quarta-feira, 8 de janeiro, que o Porta dos Fundos e a Netflix deixassem de exibir o especial de Natal. A decisão do magistrado Benedicto Abicair surge por ser «mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, maioritariamente cristã» e no sentido de «acalmar ânimos».

Em Portugal, as reações começaram a surgir e a palavra «censura» é usada como a que melhor descreve esta decisão do tribunal brasileiro, aos olhos de Nuno Markl.

«A isto chama-se censura, juventude. Não era suposto estarmos a falar dela em 2020, a não ser como matéria dos livros de História», escreveu nas redes sociais.

 

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A isto chama-se censura, juventude. Não era suposto estarmos a falar dela em 2020, a não ser como matéria dos livros de História.

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Também Bruno Nogueira reagiu, considerando «perigoso, grave e inacreditável» este episódio.

 

Bruno Nogueira sai em defesa da Porta dos Fundos

O humorista Bruno Nogueira escreveu, em dezembro do ano passado, um longo texto onde defende o grupo de humoristas brasileiros. «Não deixa de ser irónico que seja a religião quem no final de contas provoque mais danos, muitíssimos mais do que o humor alguma vez conseguirá provocar. A liberdade faz-se ouvir assim: quando se tenta calar alguém, multiplicam-se as vozes de quem teima em falar. E assim será, a luta estará sempre perdida para quem cai na armadilha de tentar silenciar», escreveu Bruno Nogueira.

O humorista português salienta que não considera que o ataque «reflita a opinião da generalidade dos católicos, mas é sem dúvida lá que faz semente e nasce». «Alguns católicos sentiram-se beliscados, e resolveram a questão arremessando cocktails molotovs contra o alvo da discórdia. Um pouco como eles entendem que Jesus faria, se fosse contrariado. Jesus é retratado neste especial de Natal como sendo gay, e foi isso que fez exaltar os ânimos. Surge então a dúvida: terá este ataque como destino final a liberdade de expressão ou a liberdade sexual? Qual delas incomoda mais a quem arremessa a raiva?», questionou Bruno Nogueira.

«É fundamental que a voz do Porta dos Fundos mantenha (agora mais do que nunca) o volume. Não importa se acham ou não piada ao que está aqui em questão, o que salta à vista é o costume: estas explosões de violência não fazem mais do que sublinhar a fragilidade de quem as protagoniza. Por estranho que possa parecer, a liberdade dá luta. Agora e sempre», concluiu.

 

Sede da Porta dos Fundos alvo de atentado

Na véspera de Natal, a sede da Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, foi alvo de um atentado.

A madrugada de 24 de dezembro foi marcada por «atos de violência», como descreve a produtora, que espera que «os responsáveis por este ataque sejam encontrados e punidos». Do ataque não resultaram vítimas.

Texto: Marisa Simões e Raquel Costa; Fotos: DR e Reprodução Instagram

 

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