«Gentalha»! Famosos atiram-se a advogada do Você na TV! e acusam-na de racismo

Conan Osíris está entre as figuras públicas que arrasaram Suzana Garcia e as declarações que esta deu quando comentou o caso do cabo-verdiano agredido até à morte em Bragança.

08 Jan 2020 | 19:30
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O homicídio de Luís Giovani Rodrigues, jovem cabo-verdiano espancado à porta de uma discoteca, em Bragança, e que acabou por morrer dez dias depois da agressão, está a causar celeuma na opinião pública. O assunto mereceu destaque na Crónica Criminal da emissão de segunda-feira, dia 6 de janeiro, do programa da TVI Você na TV!. A analisar o caso estava a advogada Suzana Garcia, cujos comentários foram alvo, desde então, de muita repercussão nas redes sociais.

Famosos ou anónimos, internautas acusam a comentadora do programa apresentado por Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes de ser racista por causa das declarações proferidas naquele momento, que se seguiu à discussão de um outro caso de homicídio, desta vez do filho de um antigo inspetor da PJ, de origem caucasiana.

«Quando nós exigimos um tratamento igual a todos os cidadãos de Portugal, não podemos, depois, querer tratamentos especiais e preferenciais. Ou seja, se eu exijo que os cidadãos que têm origens noutros países tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres que os portugueses têm, eu não posso, depois, exigir um tratamento muito especialzinho para quando um deles sofre um crime hediondo como este», começou por afirmar Suzana Garcia.

Fazendo uma alusão entre os dois casos, continuou: «Não temos, enquanto cidadãos, de pedir desculpas a uns se não pedirmos a outros. Ou pedimos a todos, ou então não pedimos a uns em especial só porque são cabo-verdianos, ou só porque são chilenos, ou só porque são o raio… que seja. Isto é um reforço inversamente da discriminação.»

Goucha interveio, trazendo ao debate uma questão levantada por muitos que se revoltaram com a (falta de) exposição mediática dada ao caso em que «um jovem preto» foi morto por «brancos».

A advogada não concorda. «Primeiro, falou-se. Não se falou foi histericamente, como esta gentalha queria que se falasse. Segundo, chamo a atenção para o facto de as festividades [Natal e Ano Novo] terem estado a acontecer nesse exato momento, não quando o episódio aconteceu mas quando tivemos notícia do facto», enumerou.

Voltando a comparar este homicídio ao homicídio anteriormente discutido no matutino da TVI, Suzana Garcia afirmou ainda:  «Quando um branco foi morto por pretos não suscitámos aqui nenhum incidente racista, nem dissemos que os emigrantes que vêm para aqui vêm agora fazer isto ou aquilo. Não dissemos nada. Da mesma forma, nada tínhamos de dizer só porque agora a vítima foi um preto. É aqui que quero chegar. Quando exigimos a igualdade, temos de exigir a igualdade plenamente.»

Criticou também figuras com exposição mediática, nomeadamente políticos, que consideram este um crime com conotação racial. Joacine Katar Moreira, a única deputada do partido Livre, foi uma delas. «Não podemos, depois, instrumentalizar e fazer uma parte de vitimazinhas e outra de lobos maus», disse.

Por isso, Suzana Garcia considerou «uma tristeza que se queira colher dividendos políticos com uma tragédia destas e com uma situação que não existe nacionalmente». «Nós temos incidentes racistas em Portugal como o mundo inteiro tem, mas não somos um povo racista», defendeu, dando como exemplo a existência de «deputadas vindas da Guiné», o facto de «a nossa ministra da Justiça ser negra» e de «o nosso primeiro-ministro não ser branco».

«Isso diz o quê? Isso diz que nós somos um povo integracionista. Há mais algum primeiro-ministro negro [ou] com ascendência indiana na Europa? Por favor, ganhem votos com meritocracia», pediu, indignada.

 

Conan Osíris mostra revolta: «Desta vez, é guerra»

 

Reações às declarações de Suzana Garcia não tardaram em surgir. E não vieram apenas de anónimos. O cantor Conan Osíris, por exemplo, diz que a postura da advogada «ultrapassou todas as marcas» e critica a TVI por, nas redes sociais, ainda considerar a colaboradora de «mulher furacão».

«A TVI ainda permite que seja normal dizerem que a morte do Luís não foi anunciada porque ‘era época de festas’. […] TVI, já não peço para pedirem desculpa por desde a Cristina [Ferreira] ter saído levarem todo o tipo de mer** nazi ao programa. Mas, desta vez, é guerra. Normalizar um crime desta natureza é guerra. O modo como puseram a mer** do Natal e do Ano Novo acima de um linchamento é guerra», defendeu o representante de Portugal no Festival Eurovisão da Canção de 2019.

 

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O humorista Diogo Faro também reagiu, recordando a presença no mesmo programa de outros elementos com ideologias associadas à extrema-direita. «É Mário Machado, é Maria Vieira, é Suzana Garcia. A TVI promove tanto o racismo que um dia destes troca o ‘T’ da sigla por uma cruz a arder», escreveu no Facebook.

 

 

«Suzana Garcia, consegue explicar-me porque caracteriza os cabo-verdianos de ‘gentalha’? Uma pessoa com as suas faculdades literárias deveria ter um pouco mais de ética e respeito, mas também não a recrimino porque é do meu entendimento que a palavra respeito não existe no seu dicionário! Aguarda a sua resposta e ‘tente’ pelo menos respeitar o luto de quem perdeu um ente querido», atirou, por sua vez, Rúben Semedo, que alinha atualmente pelo clube grego Olympiacos.

Os também futebolistas William Carvalho e Rafael Leão e o pasteleiro Marco Costa aplaudiram o amigo.

 

 

«Não está a ser racista?» A resposta de Suzana Garcia

 

Crente de que o crime que ceifou a vida de Luís Giovani Rodrigues não teve motivação racista, Suzana Garcia criticou ainda as declarações de Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo e ex-assessor do Bloco de Esquerda.

Questionada por Goucha se este era o seu «ódio de estimação», Suzana Garcia negou e disse: «Não tenho paciência para parasitas da sociedade que vivem estigmatizando questões que, na realidade, não existem. No meu ponto de vista, o senhor Mamadou Ba não tem nenhuma utilidade social para Portugal. Pelo contrário, tem uma existência perniciosa para todos nós, portugueses. Ainda não vi qual é a utilidade dele.»

«Não está a ser racista?», provocou o apresentador da TVI. A resposta pronta não demorou. «Porquê?! Mas por alma de quem? Se ele fosse uma pessoa útil e se eu achasse que ele fizesse um bom trabalho, eu reconheceria», justificou, acrescentando: «Eu, por exemplo, passo a vida a defender a ministra da Justiça. E ainda por cima é de esquerda… E eu não o sou. […] E garanto-lhe que ao defendê-la até não granjeio grandes simpatias, mas paciência. Eu acho que, de facto, o percurso dela é extraordinário e acho que, de facto, ela é uma pessoa competente.»

 

Texto: Dúlio Silva; Fotografias: reprodução redes sociais
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