E os vencedores dos Óscares são…

Os críticos de cinema Mário Augusto e Rui Pedro Tendinha, antecipam a grande noite dos Óscares, que o canal FOX transmite em direto este domingo, e explicam os seus favoritos.

24 Fev 2019 | 14:52
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O facto de não termos um apresentador fixo na cerimónia retira alguma liberdade/credibilidade ao evento, já que nos últimos anos os anfitriões não deixavam de dar a sua “alfinetada”?

Mário Augusto: A cerimónia tem vindo a perder interesse como festa e espetáculo de TV, deixou de ter a espontaneidade que levava a uma maior curiosidade. Hoje é tudo muito politicamente correto e o alinhamento tem que respeitar as fórmulas de televisão e o timing definido para o evento. Já la vai o tempo em que o Óscar tinha quatro horas, sem tempo para acabar discursos. Nos últimos dois anos tem vindo a perder audiências. A malta mais nova já liga muito pouco, é também por isso que assistimos a um alteração até nas listas de nomeados. O Kevin Hart é muito popular nessa franja de publico e ao ter saltado fora do evento levantou um problema, pois ninguém quis ocupar o lugar como segunda escolha.

Nuno Bernardo: Numa era em que o politicamente correto invadiu a sociedade e, por arrasto, a indústria do entretenimento, faz com que seja cada vez mais difícil encontrar um nome para apresentar a cerimónia dos Óscares (ou qualquer outra cerimónia de entrega de prémios com esta exposição mediática). Claramente, ao querer-se alguém consensual (que eu acho que não existe), que não tenha ou venha a ofender alguém, anula-se uma das principais armas do humor que é a sátira. Sendo menos satírica, a cerimónia é menos controversa, mais previsível e por isso menos interessante. Esta situação começa a prejudicar a indústria do cinema. Goste-se ou não dos vencedores, os Óscares sempre foram a grande montra do cinema mundial: filmes valorizam-se com as nomeações e prémios, alguns filmes tornam-se imortais, e carreiras de atores, realizadores ou técnicos ganham um novo fôlego – o que levará mais pessoas, no futuro, a ir ao cinema ver os novos filmes destes intervenientes. Uma cerimónia sem impacto, que passe ao lado do interesse do público, que não seja polémica, retira esse potencial de marketing que o cinema usufruiu ao longo de décadas.

 

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Nos últimos anos a Academia tem sido criticada por não premiar o Melhor Filme, mas antes aquele que tem a melhor mensagem ideológica. Concorda?

Mário Augusto: Há sempre nestas coisas de prémios outras intensões e forças de influência que estão para lá da avaliação que se faz da obra cinematográfica propriamente dita. Sempre foi assim e mais ainda na última década em que o jogo do politicamente correto e de agradar a todos tem vindo a descredibilizar os critérios. Mesmo assim, ainda acho que esse processo de bastidores ainda é mais escandaloso nos Globos de Ouro – que são votados por menos de uma centanas de pessoas que reagem a lobbies -, do que nos Óscares que, apesar de tudo, tem um universo de votantes de 8 mil associados da Academia.

Nuno Bernardo: A questão do melhor filme é sempre discutível. O cinema não é uma ciência exata. Os filmes são consumidos de forma diferente por cada pessoa. Não existe uma tabela absoluta de avaliação da qualidade de um filme. Existem filmes que nos tocam, que nos emocionam, que nos dizem algo. E podem não ser, tecnicamente, os melhores fotografados, os melhores realizados, os que tem a melhor música. Existem também, outros filmes que, parecendo tecnicamente perfeitos, não nos causam qualquer emoção. Mas, claramente, nesta era do politicamente correto, a Academia, sempre criticada pelas suas escolhas, tenta ser consensual, premiando e chamando a atenção para minorias, temas fraturantes, igualdade entre sexos, tentando responder aos seus críticos. Como é lógico, nesta luta (que acho perdida) de agradar a todos, faz com que determinados filmes, atores, realizadores e técnicos sejam promovidos, muitas vezes pela sua raça, orientação sexual ou género para a ribalta, como forma da Academia responder às criticas de que é alvo.

Mário Augusto:

Melhor Filme
Pode ganhar, e é o meu favorito, o ROMA. O filme é muito bonito e com um tempo de história muito equilibrado. Alguns acusam o realizador de fazer um filme muito lento, mas o cinema também precisa de tempo para que se explore melhor a história e, neste caso, uma fotografia de petro e branco notável. Se ganhar Roma (da Netflix) está dado o primeiro passo para o reconhecimento dos novos modelos de produção e distribuição nas redes de streaming.

Melhor Realizador
Alfonso Cuaron, de Roma, ou o YORGOS LANTHIMOS, responsável pelo filme A FAVORITA. O Óscar deverá recair sobre um destes.

Melhor Ator
O RAMI MALEK parece que este ano faz o pleno. Está muito bem como Freddy Mercury, mas sinceramente não me chateava que o Viggo Mortensen (Green Book – Um Guia para a Vida) ou o Christian Bale (Vice) também pudessem sair vitoriosos… mas será difícil.

Melhor Atriz
A GLENN CLOSE está a jogar em casa. É um ano de consagração da atriz americana, num filme (A Mulher) que curiosamente passou discreto, muito discreto nas salas de cinema.

Nuno Bernardo:

Melhor Filme
Roma. A Netflix investiu muito no marketing deste filme como principal concorrente aos Óscares. Já vi notícias que falam de dezenas de milhões de dólares para conseguir este Óscar. Por isso, acho que o vai conseguir.

Melhor Realizador
Yorgos Lanthimos. O realizador grego tem tido uma carreira muito interessante ao longo dos últimos anos, tendo conseguido, não só, ser presença assídua em Cannes, mas também nos Óscares. A Favorita é o seu filme mais abrangente e por isso acho que arrecadará o Óscar.

Melhor Ator
Christian Bale… mas esta é uma escolha difícil. Rami Malek é a escolha do público, mas não da crítica. Bradley Cooper poderia ser uma opção, mas o filme foi um sucesso global, pelo que poderá não ser a escolha mais óbvia para a Academia.

Melhor Atriz
OLIVIA COLMAN (A Favorita) parece estar bem posicionada para ganhar. Lady Gaga (Assim Nasce Uma Estrela) vai ter de se contentar com o Óscar de melhor tema original.

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