Direção de Informação da RTP demite-se. Leia o comunicado

A Direção de Informação da RTP, liderada por Maria Flor Pedroso, demitiu-se, esta segunda-feira, na sequência das polémicas que envolvem a agora diretora demissionária e Sandra Felgueiras.

16 Dez 2019 | 12:04
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A RTP está a ferro e fogo. A Direção de Informação da televisão pública, liderada por Maria Flor Pedroso, apresentou a demissão, na manhã desta segunda-feira, dia para o qual estava marcado um plenário de redação.

A intenção de Flor Pedroso foi, entretanto, aceite pelo Conselho de Administração da RTP, liderado por Gonçalo Reis, que, em comunicado, agradece «o trabalho desenvolvido de forma dedicada, competente e séria» da agora diretora demissionária.

«O CA nomeará em breve uma nova direção à qual continuará a exigir a implementação das melhores práticas, para que o jornalismo feito pela RTP seja o mais completo, o mais sério, o mais credível e o mais isento, ao total serviço do público», garante a RTP na mesma missiva.

Cândida Pinto, Helena Garrido, Hugo Gilberto e António José Teixeira, que compunham a equipa liderada por Maria Flor Pedroso, também puseram, segundo o Observador, o seu lugar à disposição.

Flor Pedroso, recorde-se, assumiu a Direção de Informação da RTP em outubro do ano passado.

 

Leia o comunicado na íntegra:

 

«O Conselho de Administração (CA) da RTP recebeu uma comunicação da Diretora de Informação a colocar o seu lugar à disposição, por esta considerar que, face aos danos reputacionais causados à RTP, não tem condições para prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo, como sempre tem feito.

Após auscultação dos motivos invocados pela Diretora e exclusivamente por esses motivos, o CA considera que não tem outra alternativa que não seja aceitar essa decisão.

O CA agradece a Maria Flor Pedroso, jornalista de idoneidade e currículo irrepreensível, o trabalho desenvolvido de forma dedicada, competente e séria enquanto Diretora de Informação de Televisão da RTP.

O CA acredita que a linha editorial que vinha a ser desenvolvida pela direção, assente num jornalismo objetivo e rigoroso, livre e independente, isento e plural é a matriz de um serviço público de excelência, em absoluto contraste com a crescente tendência para um jornalismo populista e sensacionalista que repudiamos veementemente e que é imperativo combater.

O CA nomeará em breve uma nova direção à qual continuará a exigir a implementação das melhores práticas, para que o jornalismo feito pela RTP seja o mais completo, o mais sério, o mais credível e o mais isento, ao total serviço do público.»

 

Frente-a-frente com Sandra Felgueiras chegou ao Parlamento

 

Nos últimos dias, a estação pública protagonizou um intenso frente-a-frente entre Maria Flor Pedroso e Sandra Felgueiras, a apresentadora e coordenadora do programa de jornalismo de investigação Sexta às 9.

O primeiro embate deu-se aquando do alegado adiamento de uma reportagem sobre a concessão de exploração de lítio no concelho de Montalegre, inserida naquele formato, envolvendo negativamente o Governo, nomeadamente o Secretário de Estado da Energia, João Galamba.

A emissão deste trabalho jornalístico estaria marcada para 13 de setembro, mas tal só aconteceu a 11 de outubro, já os socialistas tinham saído vencedores das eleições legislativas.

O caso mereceu mesmo a atenção do Parlamento. A comissão de Cultura e Comunicação pediu uma audição a Sandra Felgueiras e à agora diretora demissionária. E a primeira não poupou na frontalidade, admitindo, pela primeira vez, que «era possível» transmitir aquele trabalho de investigação durante o mês de setembro.

Já na semana passada, numa reunião extraordinária do Conselho de Redação da RTP, veio a público uma nova polémica, desta vez relacionada com uma reportagem que estava a ser feita, também para o programa Sexta às 9, sobre o alegado recebimento indevido de dinheiro vivo no processo de transferência de estudantes do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM) para outros estabelecimentos de ensino.

Um dos alvos seria Regina Moreira, a diretora do ISCEM, onde Maria Flor Pedroso era docente a tempo parcial. A discórdia entre a então direção e a equipa do Sexta às 9 surgiu quando se descobriu que a então diretora de Informação da RTP contactou a responsável da instituição para a informar de que a investigação estava a decorrer.

Maria Flor Pedroso confirmou este contacto, justificando-o afirmando crer que estava a contribuir para a evolução da investigação de Sandra Felgueiras. Este não foi, porém, o cenário que se observou. Sabendo da reportagem que estava a ser preparada sobre o ISCEM, a sua diretora terá sanado as ilegalidades que iriam ser reveladas na reportagem do Sexta às 9. A reportagem acabou por ‘cair’.

 

Texto: Dúlio Silva; Fotografias: Impala e reprodução redes sociais
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