Dalila Carmo recusou fazer Na Corda Bamba mas mudou de ideias por uma razão!

Apesar de a trama da TVI não estar a liderar nas audiências, Rui Vilhena garante que tem tudo para ser um êxito e que este não se mede propriamente quando está em antena, mas sim depois.

13 Out 2019 | 11:50
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Depois do sucesso de Ninguém Como Tu ou Tempo de Viver, Rui Vilhena, de 58 anos, voltou a atacar o horário nobre da TVI, agora com a novela Na Corda Bamba. Um projeto arriscado, gravado entre a Madeira e Lisboa, onde o autor apostou muito, e levantou ainda mais a fasquia, como nunca antes.

«As pessoas ficaram muito surpresas, porque parece Netflix. E esse era o objetivo. Sair da caixa e não mostrar mais do mesmo. Senão parece que existe um manual em que entra autor e sai autor e mantém-se sempre o mesmo texto. A novela é ‘wow’. O espectador vai perguntar o que se está a passar aqui. Na minha opinião, tem o que de melhor se faz lá fora.»

Quanto ao elenco, Rui Vilhena garante que é melhor do que tinha imaginado. «Devo dizer que, este ano, o Natal veio em junho. Este é um elenco cinco estrelas. É o dream team de qualquer autor.»

Já para o ritmo da novela, para um enredo forte e até para o próprio encadeamento das cenas, o guionista revela-nos onde foi buscar a inspiração. «Quando o José Eduardo [N. R.: Moniz] me propôs fazer uma novela, pensei: ‘Qual foi a última grande novela de sucesso?’ E temos de estar atentos, foi Avenida Brasil lá [N.R.: Brasil] e aqui [N.R.: Portugal], da autoria do Emanuel Carneiro. Recebo muitas mensagens a perguntarem-me sobre Tempo de Viver. Ok, o público manda e a novela não é para mim. Então, Tempo de Viver mais Avenida Brasil é igual a Na Corda Bamba. Aquela linguagem é muito central e muito agressiva. É a mesma linguagem que adotei em Tempo de Viver.»

Contudo, para o autor, o foco da sua atenção não foi propriamente para o herói da história, mas para o antagonista. «A minha maior preocupação é o vilão. Se não tem um bom vilão, a novela não vai ser um sucesso… As pessoas podem esquecer o nome da novela, até o nome do ator, mas não o vilão. O vilão não morre.»

Por isso, quanto ao papel principal, o autor não teve dúvidas. Apesar de ter sido difícil convencer a protagonista, confessa: «Havia um consenso, ao ler a sinopse, que seria a Dalila. Encontrei-me com a Dalila após as gravações, e ela disse que estava exausta. Eu falei: ‘Dalila, vai de férias. Vai descansar e, quando voltares, vou enviar-te o primeiro episódio.’ Ela disse-me: ‘Não vou fazer porque estou exausta.’ Disse-lhe: ‘Quando voltares, eu envio-te o primeiro episódio.’ Ela voltou e disse-me: ‘Envia-me o primeiro episódio.’ E, depois de ler, disse quase imediatamente: ‘Eu quero fazer.’ Eu conheço a Dalila há muito tempo e esta personagem é mesmo a cara dela.»

E, por falar em dream team, com Dalila Carmo regressaram outras caras bem conhecidas de Vilhena, como realça: «Depois
voltaram Margarida Vila-Nova, Alexandra Lencastre, Maria João Bastos, Paula Neves, Marco Delgado, São José Correia, Pepê Rapazote, Pedro Granger, é um elenco muito bom, é mesmo um dream team.»

Todavia, apesar de todo o esforço do autor, o certo é que a novela não tem tido os resultados esperados, antes pelo contrário. A aposta da TVI tem ficado num modesto 12.º lugar. O autor desvaloriza os números. «Uma novela de sucesso não é aquela que tem audiência quando está no ar. Uma novela de sucesso é aquela que nunca morre.»

 

Projeto transversal

 

Com séries que parecem novelas e novelas que são apelidadas de séries, Rui Vilhena garante que esta trama é um formato
transversal, como nunca visto. «Esta novela é transatlântica. Não sei como o espectador vai aguentar este ritmo. Na Corda Bamba foi preparada com muito cuidado e o ritmo vai manter-se até ao fim. A novela é diferente em tudo. O público, se abraçar este projeto, a mensagem para as televisões e produtoras será ‘é isto que nós queremos ver’. E, com aquele elenco, não é difícil. Pode ser uma grande virada na ficção portuguesa, pois vai obrigar todos estes senhores que têm o poder de decidir a pensar ‘vamos ter de fazer melhor’. É bom para o público e para todos nós. Nós não vamos sair da novela a pensar que é mais do mesmo e que estamos nos anos 80 e que é sempre a mesma coisa. Temos de sair do núcleo da peixaria e do mercado de fruta.»

Os tempos são diferentes e os autores têm de acompanhar esta mudança. E qual é a fórmula para vencer? «Estamos a viver num Mundo extremamente acelerado. Se eu fizer uma novela muito parecida com Tempo de Viver, as pessoas vão dizer ‘isso eu já vi’. Nós somos obrigados a reinventar-nos a cada trabalho. Se um artista não se quer reinventar, é uma opção pessoal e eu respeito, mas não quero que as pessoas que gostam do meu trabalho e das minhas novelas digam ‘eu já vi isto’.»

Quanto ao final da trama, ainda está em aberto. «Não, ainda não está escrito. Aqui estão todos sempre à beira do abismo. A metáfora para esta novela é a seguinte: ‘Está-se numa praia, vem uma onda e você nada, nada e nada. Depois vem outra onda, que é ainda maior que a anterior, e você volta a nadar, nadar, nadar…’, isto é literalmente a novela.»

 

Texto: Eduardo César Sobral | Fotografias: Impala e TVI

 

(artigo originalmente publicado na edição nº 1699 da TV 7 Dias)

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