Cristina entrevistou Isaltino Morais e público não perdoou: «Vale tudo pelas audiências»

A passagem de Isaltino Morais pel’O Programa da Cristina foi merecedora de críticas por parte de vários espectadores. O autarca de Oeiras cumpriu uma pena de 14 meses de prisão efetiva.

15 Jan 2020 | 17:50
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Da paixão pela cozinha à presença na Guerra Colonial. A entrevista de Isaltino Morais, o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, que cumpriu pena de prisão efetiva em 2013 e 2014, depois de ter sido condenado por corrupção passiva, fraude fiscal, branqueamento de capitais e abuso de poder, a Cristina Ferreira, na emissão desta quarta-feira, dia 15 de janeiro, d’O Programa da Cristina foi rica em assuntos… e em críticas.

Houve, claro, quem aplaudisse a passagem do político, reeleito autarca de Oeiras no último ato eleitoral, pelo matutino da SIC. Mas os apupos também se fizeram sentir em massa. Quer na página de Instagram da apresentadora quer na do programa, as críticas são mais do que muitas e fazem sombra aos elogios.

«Receberam a visita de um político com cadastro por corrupção. Memória curta. Valorizamos quem não devemos e ignoramos quem merece. Até tem obra feita em Oeiras, mas também prejudicou terceiros (contribuintes)», escreve um internauta, enquanto outro classifica como «muito mau» a presença de Isaltino Morais n’O Programa da Cristina. «Como o mundo está ao contrário!», denota outro.

«Há pessoas que não merecem protagonismo! Que vergonha!», escreve ainda outra pessoa. Uma quinta explana: «Sinceramente, não entendo porque dão audiência a alguém que não é propriamente o melhor exemplo que devemos mostrar à sociedade portuguesa. Só porque cumpriu a pena? Não é aceitável. Alguém que continua a afirmar a sua inocência após a justiça ter feito o seu serviço. Não é aceitável por parte de alguém que aceita as virtudes e as falência da democracia.»

 

«Exemplo admirável para quem quer ser trafulha!»

 

Usando um tom de ironia, há ainda quem admita que Isaltino Morais «pode ser um exemplo», mas «de corrupção». «Que bela escolha! Exemplo admirável para quem quer ser trafulha! Como diria o outro, não havia necessidade, dona Tina», vinca outro seguidor do maior ativo da SIC.

«Fartou-se de gamar e, mesmo assim, é idolatrado nesta paradoxalidade social. Não sei que estado de consciência prolifera aí, na elite social (que para mim são iguais ao gajo da esquina, nada mais), mas a coerência de certeza que não prolifera por aí. Quanto mais se sobe, maior a estupidez humana. É inversamente proporcional. Levar um gajo desses ao programa… Levem alguém construtivo e coerente com os paradigmas dos tempos de hoje», aconselha outro espectador.

«Vale mesmo tudo pelas audiências! Ele é especialista em corrupção», acusa ainda outra pessoa.

 

 

E há até quem recorde a recente entrevista concedida por Cristina Ferreira à revista Visão, na qual a apresentadora assume que a SIC ainda não permitiu que André Ventura, o líder do partido Chega e um dos políticos mais polémicos do nosso país, fosse convidado do programa das manhãs.

«Nós, em equipa, falámos várias vezes do André Ventura e não conseguimos chegar a um consenso sobre se haveríamos de convidá-lo. Implicámos a Direção de Programas. Foi numa altura em que se estava a falar muito da posição extrema do André, e sentimos que não era o momento de o recebermos», disse, então, Cristina Ferreira àquela publicação.

«Eu era das que achava que poderia ser recebido, que a porta está aberta para ouvir todas as pessoas, mas daqui a uns tempos, já toda a gente estará confortável… e se ele quiser, como é óbvio», afirmou, acrescentando ainda: «Há coisas que têm de ser feitas com muita cabeça. Receber aqui outros candidatos ou eleitos não se tornava tão mediático como receber o André, e até em que moldes é que queria fazer a entrevista, Foi, até hoje, o único que ainda não convidámos, mas que gostaria muito de receber», acrescentou.

Agora, o assunto é então recordado por um espectador. «Acharam todos por bem não levar ao programa alguém como o André Ventura. No programa da RTP1 [5 para a meia-noite] afirmou que não entrevistaria Mário Machado [que, há um ano, foi convidado de Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes no Você na TV!, da TVI]. Então porque é que convidou este senhor? Pelo exemplo de reinserção social quando saiu da cadeia voltou para o poleiro? Ou pelo excelente exemplo de como ‘desviar’ dinheiros públicos? Para quem se quer, um dia, candidatar a Presidente da República, as suas ideologias até agora são nulas e os exemplos que quer seguir são de longe os melhores…», lê-se.

 

O que disse Isaltino Morais sobre a condenação?

 

Na entrevista a Cristina Ferreira, Isaltino Morais recordou a posição do PSD de, já depois de o político ter cumprido 14 meses de prisão efetiva, não apoiar a sua recandidatura à Câmara Municipal de Oeiras.

«Não há magoa. Nunca tive. Tive mágoas com gente do PSD, com o PSD nunca. Sou social-democrata, sou pela distribuição da riqueza, por um intervenção social junto das pessoas», afirmou.

A estrela da SIC questionou-o ainda sobre o que o fez ganhar tantas vezes as eleições e ser eleito «mesmo depois de ter estado preso e cumprido pena». O autarca disse não tem dúvidas, defendendo que os eleitores sabem em quem estão a votar.

«Os cidadãos de Oeiras são inteligentes, porque votam em quem consideram que lhes resolve mais problemas. Tinha a certeza de que ia ser eleito, porque bastava andar na rua…» O segredo? «Muito trabalho. Nada se consegue sem trabalho, muita dedicação, vestir muito a camisola e muita compreensão pelos problemas das pessoas.»

No entanto, Cristina Ferreira frisou que haverá sempre «uma sombra no percurso» do político devido aos 14 meses em que esteve preso. Mas Isaltino Morais foi rápido a responder que a prisão o tornou num homem emocionalmente mais rico. «[A sombra] está sempre presente até à minha morte, mas o que é importante é que há pessoas que, quando têm uma provação na vida, entram em depressão, revoltam-se, dizem mal de toda a gente… A mim fez-me bem. Todas as provações me fazem bem, enriquecem-nos, seja a prisão, seja uma doença gravíssima, seja a perda de um amigo… Tudo o que sejam provações na nossa vida e às quais nós nos propomos a ultrapassar enriquece-nos sempre».

Isaltino Morais diz não alimentar a revolta, mas fala em injustiças. «O sistema prisional é massificador, é destruidor das pessoas. Não me destruiu porque resisti», disse o político.

A 24 de junho de 2014, o autarca de Oeiras abandonou o estabelecimento prisional. Mais magro, segurava apenas um saco preto com alguns pertences. Que homem era no dia em que voltou à liberdade? «Eu, o autêntico Isaltino. O saco preto na mão era o que traziam todos os presos. Estive numa cela com mais quatro presos […]. Seis meses depois de estar preso, quiseram colocar-me numa cela individual, mas não aceitei, porque a prisão não é só privação de liberdade, é privação de muitos outros direitos: de ler, de falar com a família, de ter acesso a advogados… Em Portugal, os políticos não querem saber das prisões», lamentou.

 

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Texto: Dúlio Silva com Ricardina Batista; Fotografias: Impala e reprodução redes sociais
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