Concorrente de “Hell’s Kitchen” deixa Medicina Nuclear para trás e abre queijaria

O sorriso, que já lhe valeu a repreensão de Ljubomir Stanisic, esconde uma vida de sacrifício. Mas nem a pandemia impediu Ana Sofia Figueiredo, de “Hell’s Kitchen”, da SIC, de lutar.

27 Mar 2021 | 11:50
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Aos 32 anos, a concorrente Ana Sofia Figueiredo não pertence ao lote de cozinheiros de “Hell’s Kitchen Portugal”, da SIC, que andaram na alta roda da cozinha internacional, ao lado de chefs e restaurantes de renome por essa Europa fora.

A história desta beirã do Sabugal revela-se de outra forma e leva-nos ao Fundão, para onde se mudou com o marido, aos 25 anos, depois de vários anos a viver em Lisboa, ela na área da Medicina Nuclear, ele como militar, já com vários anos de carreira.

O “adeus” à capital

Os dois decidiram abandonar a capital por estarem fartos e em 2014, quando Ana Sofia descobre que está prestes a ser mãe pela primeira vez, tomam a decisão final. O recomeço das suas vidas dá-se no Sabugal onde colocam as fichas todas no seu novo negócio, que nada tem a ver com as anteriores profissões e onde se passam a dedicar à criação de cabras – numa fase inicial, a que se seguiu a produção de queijos.

Segundo uma entrevista que deram em 2018 ao Jornal do Fundão, na altura já tinham cerca de mil animais e preparavam-se para abrir o negócio de queijos. Para isso Ana Sofia e o marido compraram uma velha queijaria da região e realizaram finalmente o sonho. “Algumas pessoas que trabalhavam comigo onde eu estagiava, gostavam muito de agricultura, mas acabaram por tirar outro curso e nunca trabalharam no campo. Eu sentia neles a tristeza de nunca terem feito isso e sei que não queria chegar um dia na minha vida e sentir-me arrependida de pelo menos não tentar. Não sei se daria certo ou errado mas queria fazer e assumir as responsabilidades dos riscos e do que poderia vir” confessava àquele jornal regional.

Para trás ficavam sete anos de vida de cidade, mas esta mudança aproximava-a de coisas a que dava mais importância. “Estava longe da família e o meu filho não estava junto dos valores que são importantes para mim e então comecei a ver o que poderia fazer por aqui”, contava então.

A sua ligação às cabras tem uma explicação muito simples: é que quando regressou ao Sabugal, Ana Sofia deu conta que os rebanhos estavam a desaparecer. Seguiu-se a entrada de um projeto e uma história curiosa. “Comprei 17 cabras, meti-as na garagem da minha mãe e ela não me deserdou”, lembra.

Ordenhar de sol a sol

Na referida reportagem em que foi entrevistada, Ana Sofia recorda que a sua aposta não lhe trouxe dias fáceis e uma das maiores dificuldades foi habituar-se à ordenha das cabras, antes de ter instalado um sistema industrializado.

A mulher que já foi várias vezes repreendida por Ljubomir Stanisic por estar sempre a rir, revela que a primeira vez que ordenhou o seu ainda mini-rebanho, começou às oito da manhã e quando chegou às oito da noite ainda não tinha concluído a sua tarefa e até teve de pedir ajuda a um vizinho.

Nessa altura, a cozinheira ainda estava sozinha, uma vez que o marido apenas se juntou passados dois anos de ela ter regressado. Hoje, os dois e o filho de sete anos vivem numa quinta que compraram e dividem o tempo entre esta propriedade rural e a queijaria Domingos Ambrósio, cujo nome é uma homenagem ao avô de Ana.

Para além do negócio de queijos, a família vive do que a terra dá e a única coisa que teme é que alguma fatalidade lhe possa suceder. “Uma pessoa investe muito dinheiro e de repente pode ver uma doença e posso ficar sem os animais. Não é a mesma coisa que ter um ordenado fixo ao fim do mês como tínhamos”, aponta. As mudanças na sua vida estendem-se ainda aos horários.

Atualmente, Ana Sofia começa na labuta às cinco da manhã e às sete horas o leite proveniente das suas cabras chega à sua queijaria, onde a concorrente mete mãos à obra. “Não interessa se somos doutores ou pastores, mas sim chegar ao fim do dia e sentirmo-nos realizados”, analisa.

Como se não bastasse todo o investimento, no ano passado Ana Sofia e o marido abriram um restaurante em outubro. Durante uma entrevista que concedeu nesse mês a Isabel Angelino, no programa da RTP1, “Aqui Portugal”, a concorrente confessou que “foi complicado. Toda a gente sabe o que se passou, mas é nos momentos difíceis que arranjamos forças para grandes coisas.” A TV 7 Dias sabe que foi a abertura do restaurante que motivou Ana Sofia a concorrer ao Hell’s Kitchen Portugal

Textos Luís Correia (luis.correia@impala.pt); Fotos: Divulgação SIC, D.R. e Instagram; Agradecimentos: Jornal do Fundão
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