Comissão de Trabalhadores da RTP arrasa programa de Isabel Silva e João Paulo Rodrigues

A RTP está a ser criticada devido aos custos do programa “Chefs da Nossa Terra”. O comunicado fala mesmo em “apresentadores sem conhecimento dos respectivos guiões”.

26 Jun 2022 | 11:00
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O programa “Chefs da Nossa Terra”, da RTP1, apresentado por Isabel Silva e João Paulo Rodrigues, está a ser alvo de duras críticas por parte da Comissão de Trabalhadores do canal público. Em causa, estão os gastos do formato e a própria produtora, a Coral.

As queixas foram tornadas públicas através de um comunicado da Comissão de Trabalhadores da RTP, na última quarta-feira, 22 de junho. “A preocupação com dinheiros mal gastos só pode crescer e agravar-se quando vemos o espectáculo proporcionado por várias externalizações sem critério. Um programa como os ‘Chefs da Nossa Terra’ está a ser feito com um gasto que é pelo menos o triplo do que seria necessário com produção própria (compare-se com os custos do ‘Aqui Portugal’)”, pode ler-se.

Leia na íntegra o comunicado da CT da RTP:

“O famoso buraco financeiro da RTP é, antes de mais, um buraco negro. Ninguém sabe quanto vale, que fundo tem e se tem algum fundo. Em casa onde não há transparência, todos podem especular e ninguém tem razão.

Quando, há dois anos, se lançou foguetório pelos ‘resultados positivos’ da RTP, evidentemente que era aconselhável temperar o entusiasmo com alguma prudência, porque se estava a falar de resultados antes da punção fiscal. Quando, agora, se lança o alarme pelo ‘buraco financeiro’, evidentemente será aconselhável evitar o pânico e ver primeiro o que este alarme significa.

Já ouvimos o CA falar num buraco financeiro de sete milhões, os sindicatos já o ouviram falar num buraco de 10 milhões e os diretores, ao que parece, já ouviram falar num buraco de 11 milhões. A não ser que o famoso buraco registasse crescimentos milionários de semana para semana, há aqui qualquer coisa que não bate certo e que não pode explicar-se apenas com o afã de inflacionar buracos, ontem para vergar os sindicatos, agora para arrancar ao poder político um aumento da CAV.

A verdade é que este é um buraco negro e, para começar a iluminá-lo, devemos começar por medi-lo e contabilizá-lo com rigor. Ora, para haver rigor, tem de haver transparência. Não queremos que a RTP ande nas bocas do mundo e nas colunas dos tablóides como um sorvedouro de dinheiros públicos. E não aceitaremos fazer sacrifícios por histórias mal contadas e por contas que ninguém nos deixa ver.

Buraco negro e regabofe: A preocupação com dinheiros mal gastos só pode crescer e agravar-se quando vemos o espectáculo proporcionado por várias externalizações sem critério. Um programa como os ‘Chefs da Nossa Terra’ está a ser feito com um gasto que é pelo menos o triplo do que seria necessário com produção própria (compare-se com os custos do ‘Aqui Portugal’). Há na produção dos ‘Chefs da Nossa Terra’ pela Coral alguma coisa especialíssima que justifique esta exorbitância? Há vários anos, a Coral já trouxe para a RTP uma contribuição válida e mesmo ingredientes de um ‘know how’ que enriquecia a nossa própria forma de fazer televisão. Entretanto, tudo mudou e o que hoje vemos são comitivas faraónicas, apresentadores sem conhecimento dos respectivos guiões, régies que mais parecem bazares, invadidas pelo caos, a indisciplina e a incompetência.

Uma RTP tornada refém: Foram os melhores trabalhadores da Coral que partiram para outra, foi essa fornecedora que deixou degradar as suas competências e agora apenas pode oferecer à RTP serviços que são uma sombra do que já foram? Talvez. Mas é também a posição negocial da RTP que se degradou ao ponto de já quase nada poder exigir dos seus fornecedores e ter de aceitar tudo o que lhe é proposto. Pelos vistos, nada aprendemos com o desmantelamento, há vários anos, da cenografia, que agora pagamos a peso de ouro, sempre ao mesmo fornecedor. E, como era de esperar, esse fornecedor abusa contra a RTP da sua posição de monopólio, faz os preços que quer e impõe-nos sem discussão.

Ainda a propósito do Contrato de Concessão: O projecto de Contrato de Concessão agravava ainda a lógica de externalização a qualquer custo e felizmente morreu na praia. Mas os interesses que inspiraram esse agravamento ainda aí andam. Visto que o novo ministro da Cultura pediu ao CA uma opinião sobre o que deve conter o novo Contrato de Concessão, e visto que ninguém pediu essa opinião aos trabalhadores que têm várias décadas de RTP, nós damo-la mesmo sem nos ser pedida: o novo Contrato de Concessão deve obrigar a RTP a discriminar, com total transparência, quanto dinheiro do contribuinte paga a cada fornecedor e quanto paga por cada serviço prestado.

Se se considera essa discriminação incompatível com a obrigação de dinamizar o mercado audiovisual, há bom remédio: atribuam a obrigação a quem deve assumi-la, que é o próprio Ministério da Cultura. O que não podem fazer é manter no Contrato de Concessão uma obrigação para a RTP de gerir mal os seus recursos e de tapar, depois, o sol com a peneira, para ninguém se aperceber da má gestão que estava obrigada a fazer”

RTP debaixo de fogo por causa de folgas

Esta comunicado da Comissão de Trabalhadores da RTP aborda ainda a constante troca de folgas a que os funcionários estão sujeitos. “Muitos de nós somos frequentemente confrontados com a possibilidade de trocar folgas de forma sistemática e recorrente, muitas vezes com o argumento de que este trabalho surgiu agora e o horário já estava feito, ou com a argumentação de que não se pode pagar folgas etc.. Ficam, pois, o bolso e o descanso dos trabalhadores onerados com a falta de planeamento das atividades mensais da empresa. Todos sabemos que uma grande parte desse esforço se destina a superar o défice de planeamento – e não qualquer emergência, que todos entenderiam”, pode ler-se.

“Nos regimes de horário irregulares I4, I5, e I6, e nas isenções B e C, só é permitido trocar uma folga por mês como se pode ver no Acordo de Empresa na tabela da página 87. Essa alteração tal como descrita no AE na cláusula 32ª, ponto 5, pode ser feita numa única folga apenas, desde que esta não seja ao sábado nem ao domingo, e deve o trabalhador ser avisado no mínimo com 48h de antecedência. Fica então claro que trabalhar em qualquer outra folga que não obedeça a esta regra deve corresponder ao respetivo pagamento de trabalho suplementar sem qualquer outro esquema”, conclui o comunicado.

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Reprodução redes sociais
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