Cláudio Ramos abriu as portas de casa e o coração a Cristina Ferreira numa conversa que foi transmitida pela TVI no primeiro dia do ano. O apresentador deu uma entrevista intimista à amiga e partilhou com o mundo (quase) tudo sobre a sua vida pessoal e profissional.
No final do programa “Conta-me”, um episódio invulgar de notar. “Vi ali uma fotografia muito suspeita…”, atirou a Diretora de Entretenimento e Ficção da estação de Queluz de Baixo, referindo-se a um retrato que Cláudio Ramos tem com o ex-namorado na estante da sala. “Com o Diogo [Faria]?”, riu-se o apresentador. “As pessoas importantes da nossa vida fazem parte da nossa vida. É uma pessoa importante na minha vida”, disse.
“Já resolveste as coisas com antigas relações?”, perguntou ainda, curiosa, Cristina Ferreira, referindo-se ao namoro que o apresentador teve com o stylist Pedro Crispim, comentador do “Big Brother”. “Não tive antigas relações. Não tenho essas memórias!”, respondeu, entre risos, fugindo à questão.
Cláudio Ramos: “Eu sou uma pessoa especial”
No início da conversa, Cláudio Ramos foi questionado por Cristina Ferreira sobre qual a fase mais difícil da sua vida. “Houve coisas muito difíceis. A esta distância, com 47 anos, aprendi a relativizar. Está tudo resolvido, não tenho mágoa nenhuma com o passado. O presente é muito bom. Soube fazer uma gestão muito boa das coisas que me aconteceram. O importante é não nos esquecermos nunca do que passámos, para que o futuro seja melhor e o presente não nos deixe tirar os pés do chão”, assumiu.
Sobre a infância, o apresentador recordou: “A minha mãe foi uma super-mulher. O que achei sempre dos meus pais é que, se fosse eu, faria coisas diferentes. Mas eu só tenho uma filha. Qualquer coisa que tenha acontecido entre mim e a minha mãe ficou ultrapassado desde que ela é avó da minha filha. Acho que a minha mãe ama mais os netos do que os filhos. É extraordinária.”
“A primeira imagem de infância que eu tenho, estranhamente, é com o meu pai. Toda a gente sabe que não tínhamos uma relação próxima. Ele tinha orgulho em mim, era rígido e muito sonhador. Por ele me castrar por aquilo que queria ser na minha vida, comecei a criar-lhe distância. Ele achava que isto não era uma profissão”, lembrou.
“Eu sou uma pessoa especial, não era igual às outras. Na altura não era só na sexualidade. Tenho uma intuição diferente das outras pessoas e havia algumas coisas no meu pai de que não gostava.”
Relativamente aos sucessos que tem vindo a conquistar na vida profissional, Cláudio Ramos garantiu: “Eu sabia que isto que está a acontecer ia acontecer. Tinha a certeza absoluta. As pessoas vão achar que isto é meio louco. Só duas pessoas acreditaram que eu conseguia: a minha ex-mulher e mãe da minha filha [Susana Moniz], que sempre me apoiou, e uma amiga de infância.”
A assunção de que era gay frente à mulher
Durante a entrevista, Cláudio Ramos desdobrou-se em elogios à ex-mulher. “Sempre entendeu todas as minhas decisões. Eu sempre quis ser o melhor marido e o melhor ex-marido. Somos os melhores amigos. É a primeira pessoa a quem telefono. É muito ponderada”, disse.
Sobre a separação, que se deu quando Cláudio Ramos assumiu a homossexualidade, o apresentador tem noção de que a mãe da filha “sofreu mais”. “Ficou sozinha com uma filha. Eu estava a fazer a minha vida em Lisboa. Sentámo-nos uma vez e eu disse-lhe: ‘Pergunta-me tudo o que quiseres perguntar’.”
“Ela já tinha desconfiado?”, interrompeu Cristina Ferreira. “Acho que poderia ter desconfiado, como as pessoas, desde que eu cheguei a este meio, como o meu pai me dizia muitas vezes. Dizia que eu era afeminado, coisinha de maricas. Nunca me chateou ou traumatizou, estou a borrifar-me. Foi antes de me casar. Eu estava focado em ter uma boa família, uma casa, uma filha. Achava que era para a vida toda”, confessou. “Tinhas relações sexuais?”, perguntou Cristina. “Sim, normal!”, respondeu, sem pudores. “Nunca senti durante o casamento que a estava a trair. O meu pensamento não a estava a trair. Quando comecei a pensar que o meu pensamento estava a ir para outro lado, cheguei a casa e disse: ‘Susana, isto acaba aqui’. Saí de casa e conversámos duas semanas depois.”
E prosseguiu: “Depois, chego lá e sai-me tudo da boca de repente. Ela não estava nada à espera. Fui muito egoísta. Sou muito egoísta nas decisões que tenho para mim.” Contudo, Cláudio Ramos pensa que “ajudou” Susana o facto de esta não ter sido “trocada” por uma mulher.
A franca conversa com a filha
O apresentador disse ainda que nunca precisou de ter uma conversa com a mãe. “As mães sabem. Falámos sempre soube tudo. […] A única pessoa que me perguntou foi a minha filha, Leonor. Disse-me: ‘Precisamos de ter uma conversa’. Tinha ela dez, 11 anos. […] Fomos a minha casa, sentámo-nos e ela disse: ‘Os meninos dizem… Tu és bissexual?’ E eu disse-lhe que não, que era homossexual.”
Acerca da exposição da pública a que Leonor se viu sujeita por ser sua filha, o apresentador contou: “A última vez que ela apareceu foi no teu programa [‘O Programa da Cristina’, da SIC] e agora quer estar mais sossegada. Não que saber de nada disto.”
Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz estreiam-se esta segunda-feira, 4 de janeiro, nas manhãs da TVI. O programa “Dois às 10” vai ocupar o lugar de “Você na TV!2, apresentado por Manuel Luís Goucha.
Texto: Joana Dantas Rebelo; Fotos: reprodução TVI e redes sociais
