Bruno Lage MARCADO PELA TRAGÉDIA!

A mãe de Bruno Lage, treinador que conquistou o 37º campeonato para o Benfica, teve um acidente de trabalho e ficou sem um membro. O técnico usou o filho para honrar o nome do seu mentor.

02 Jun 2019 | 16:50
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6 de janeiro de 2019, Bruno Lage entrava no relvado do Estádio da Luz para, pela primeira vez, orientar a equipa principal do Benfica, no jogo contra o Rio Ave. Era o seu pontapé de saída para o objetivo que, naquela altura, mais parecia uma miragem: a conquista do título de campeões nacionais.

Na altura da celebração, o treinador fez questão de apelar ao civismo dos adeptos e de homenagear um dos seus mentores no mundo do futebol, uma atitude que para quem o conhece desde pequeno não estranha.

Afinal de contas, Bruno é um homem «tímido» e «simples». No entanto, por detrás dessa timidez existe uma história trágica, que marcou a sua família há vários anos.

Filho de Fernando Lage Nascimento, presidente do Núcleo Distrital de Setúbal da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, e de Celeste Nascimento, Bruno, agora com 43 anos, «viu», em muito novo, a sua mãe sofrer um acidente de trabalho, que a deixou marcada para a vida.

Em declarações exclusivas à TV 7 Dias, Aurélia, vizinha dos pais do técnico do Benfica, conta que «ela não tem uma mão, tem uma prótese». Informação confirmada por outra senhora que reside no bairro onde
Bruno Lage cresceu, o Bairro da Fonte do Lavra, em Setúbal, que nos acrescenta que «ela tem esse problema, mas faz tudo, mesmo sem a prótese colocada. Estende roupa, faz bolos, é muito independente».

Já outra vizinha do casal explica que «ela ficou sem uma mão quando trabalhava no hospital do Outão». «Ela trabalhava na cozinha e teve um acidente de trabalho. Isto foi uma coisa que se passou há muitos anos, era o Bruno ainda pequeno».

Atualmente com grande protagonismo a nível nacional, para quem ali reside o treinador continua a ser
a pessoa que sempre foi, «um rapazinho muito humilde, muito introvertido, muito educado». «Foi uma surpresa para todos o que lhe aconteceu», conta uma das vizinhas de Fernando e Celeste.

Já Aurélia não «esconde o orgulho muito grande» que tem em conhecê-lo. “Gosto muito dele. Ele nunca foi de muito alarido, é uma pessoa muito reservada», conclui. Para obter uma reação dos pais de Bruno Lage, a TV 7 Dias tentou chegar à fala com ambos, mas nenhum se mostrou disponível para prestar declarações.
Nesse mesmo dia, Bruno esteve a visitar os progenitores na companhia do seu filho Jaime e, ao ser abordado pela nossa equipa de reportagem, escusou-se simpaticamente a fazer quaisquer comentários.

Nome do filho é uma homenagem

 

O futebol sempre fez parte da vida de Bruno Lage, inicialmente como jogador e mais tarde como membro de equipas técnicas. Foi através do seu progenitor, Fernando Lage Nascimento, a quem foi “roubar” o apelido, que em 1997 o atual treinador do Benfica foi estagiar para o Vitória de Setúbal como preparador
físico, na equipa liderada por José Rocha, um grande amigo do pai.

E foi aqui que conheceu Jaime Graça, uma ex-glória do Benfica, que acabou por se tornar o seu mentor. Após uma breve passagem por outros clubes, foi na época 2004/2005 que Bruno Lage foi recrutado pelo ex-jogador para o Benfica, casa onde fez um longo percurso pelas camadas jovens como treinador.

Mas, em 2012, dava por terminada a sua colaboração com o clube dos encarnados. Afinal de contas, a pessoa que lhe tinha dado a mão e que o tinha levado para a Luz tinha acabado de falecer. Volvidos sete anos após a morte de Jaime Graça, a gratidão que tinha pelo antigo jogador não se desvaneceu, bem
pelo contrário.

Bruno Lage levou para a festa do título uma camisola com o nome do seu mentor. Mas esta não foi a única
homenagem que fez a este homem. É que em 2015 nasce o seu filho, fruto da relação com Maria Campos, e o nome que lhe deu foi precisamente para homenagear o homem que o ajudou.

«O Bruno chegou à hora da verdade e não se esqueceu da pessoa que ele diz a alto e bom som que lhe deitou a mão e que o fez treinador de futebol. O nome do filho dele é uma homenagem ao Jaime Graça», conta à TV 7 Dias Fernando Tomé, a antiga glória do Vitória de Setúbal, que treinava os juniores quando o técnico dos encarnados chegou ao clube.

Porém, no seu nome completo, o pequeno Jaime esconde ainda outra dedicatória que Bruno fez questão
de fazer. Embora o treinador do Benfica se apresente como Bruno Lage, este é um apelido do pai que não foi por si adotado à nascença, mas que fez questão de atribuir ao seu filho, fazendo com que, desta
forma, o apelido que o define perdure no tempo.

 

«Há mais vida além do futebol»

 

Esta não é, no entanto, uma atitude que o surpreenda, pois quem o conhece desde pequeno sabe bem quem é Bruno Lage. «No outro dia estava a conversar com um amigo que também o conhece desde miúdo e ele dizia assim para mim: ‘Dizem que o Bruno é um rapaz humilde, mas não é, é simples.’ E realmente se calhar essa é a palavra adequada para o definir e fazer um retrato fiel daquilo que é o Bruno. Ele é um rapaz simples e prova-se por aquilo que ele ultimamente conquistou», diz.

Além de ter conduzido o Benfica até ao título nacional, Bruno Lage é também visto por Fernando Tomé
como um novo alento para o futebol português: «Ele traz uma aragem mais pura para os meandros do futebol. A imagem que existe agora do futebol não é boa. Aliás, no seu discurso ele diz isso, que há mais na vida além do futebol. Com o seu discurso, ele pretende que as pessoas compreendam que, se ajudarmos do lado exterior, também conseguimos que o futebol seja melhor.»

 

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(texto originalmente publicado na edição 1680 da TV 7 Dias)
Texto: Carla Ventura; Fotos: D.R e Sport Lisboa e Benfica
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