Atriz assume depressão após morte de Pedro Lima: «Tive sorte de me encontrarem num carro»

Na sequência da morte de Pedro Lima, que estaria a tentar ultrapassar uma depressão, Anna Eremin revelou que também ela sofreu deste transtorno. Atualmente, a atriz da TVI vive medicada.

22 Jun 2020 | 21:40
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A morte de Pedro Lima chocou o País e vários famosos têm deixado mensagens e comentários nas redes sociais. No entanto, há um que está a emocionar os internautas: Anna Eremin escreveu um longo texto na sua página do Instagram, no qual assume que também sofreu uma grave depressão. A atriz revela detalhes impressionantes sobre a forma como esta doença a afetou, há cerca de dois anos.

«Confesso que nunca pensei fazer isto. Faz-me muita confusão espetar a minha intimidade numa rede social. Contudo, a vida acontece, a morte acontece, e, se estas linhas tiverem o poder de mudar um destino então, f***-se! Bora!», começou por escrever.

«Corria a Primavera de 2018, solarenga, feliz e Oh! The irony!, era o melhor ano da minha vida. A casa mais bonita de Lisboa, dividida com alguém que tem a bondade nos olhos e o Mundo no coração, era eu protagonista de um espetáculo no teatro dos meus sonhos, uma novela com a personagem (provavelmente) mais marcante que tive até hoje. Tudo motivos para acordar banhada em gratidão e sorrisos».

«Quando o médico de família (sim! Eles também têm esse poder e essa sensibilidade!) me diagnosticou a palavra ‘depressão’, ri-me na cara dele. Burro, pensei. Cancro, tá-se bem, agora isto? Pensei. Não sou fraca! Pensei. Que merda que sou! Pensei. Ingrata, pensei. Tenho tudo, pensei. E rasguei a receita que dizia “Zoloft” com o ar mais arrogante do mundo. Ignorei, arrogante, as palavras dele (“vou marcar-lhe uma sessão de terapia. Pode ser tarde demais”). Arrogante, fui lá e cuspi na cara da terapeuta», contou, explicando a razão por que não aceitou o diagnóstico:

«Porque não sou frágil, pensei. Porque eu é que me conheço, pensei. Porque é ridículo, disse. Abri uma garrafa de vinho, bebi-a e fui dormir. Estou só um pouco cansada, pensei. E fui trabalhar, porque tenho a sorte dos poucos de fazer o que amo. Porque só se queixam os ingratos, os fracos, os burros.»

 

«Depois a voz falhou…»

 

Anna Eremin revela ainda que, além das palavras do médico, ignorou ainda os sinais que o corpo lhe ia dando. «Não dormi. Como dormir, se a adrenalina te corre nas veias? Como não vomitar, se trabalhas horas a mais? É tudo normal, pensei. E continuava a rir. A ansiedade é normal. Todos têm. O cansaço é normal. Não faço mais que a minha obrigação e o meu amor. Depois a voz falhou numa cena e noutra. É o calor, pensei».

«Depois a arrogância. Ninguém me compreende, pensei, como não compreendemos ninguém. Veio a maldade, as respostas tortas. Não era normal, diziam. Deves estar parva, diziam. Depois as gargalhadas forçadas, a boa disposição desmesurada, a palhaçada, o excesso de emoção. Como não? Estou cansada, dizia. Ninguém tem culpa, dizia. E nas noites sem dormir o calor tinha culpa. E nas viagens de carro, a música não tinha volume suficiente.»

A atriz continua o relato de como a depressão a afetou: «As multidões começaram a meter medo. Como não? Muita gente no mesmo sítio nunca é uma boa ideia. E toda a gente olhava para mim de lado. Como não? Se sou uma merda. Se sou ingrata. Se não sou suficiente. E é um rodopio, uma nuvem negra. Nada do que parece é. O coração bate depressa de mais o sono nunca vem. E a vontade de parar, carregar no stop, em pausa, em rewind não se controla. E olhas ao espelho e não te conheces. E tens a certeza que estás sozinho porque é o que mereces…. CORTA!»

 

«Tive a sorte de me encontrarem num carro…»

 

Neste texto, Anna conta como foi ‘salva’ pelas pessoas mais próximas e como ainda hoje é medicada para controlar os estados depressivos: «Eu tive a sorte de me encontrarem num carro no meio do Alentejo. Tive a sorte de ter pessoas num círculo próximo que sabiam que este bicho mata. Quão assustador é. Mas que tem solução. Dura, fod***, não definitiva, mas tem. É possível. Não parece. Eu juro, eu sei, não parece, mas tem.»

«Tomo Zoloft há dois anos todas as manhãs. Vou ao psicólogo, vou ao reiki e tenho pessoas muito bonitas na minha vida. Eu tenho sorte, sim. Mas eu não soube aceitar ajuda. Não soube. Não tive outro remédio e estou viva só por causa disso.»

No final deste texto emotivo, a atriz faz referência ao caso de Pedro Lima: «Se calhar devia ter contado isto ao Pedro. Não calhou. Estou a contar-vos a vocês. Uma depressão são óculos escuros que não saem. É uma realidade paralela que não existe e está na nossa cabeça. Só. E é possível tirar esses óculos. É mesmo possível. Por favor… já aprendemos a cuidar do nosso corpo, já sabemos correr pela manhã e fazer batidos verdes. Mas, por favor… Vamos cuidar de tudo o resto antes que seja tarde de mais. É só o que vos peço. Por favor.»

 

Amigos famosos reagem

 

Inês Herédia foi uma das primeiras figuras públicas a comentar esta publicação. «Meu amor, amanhã dou-te um abraço dê por onde der». Marta Faial escreveu: «Sem palavras… Linda, valente, forte, destemida, amiga, pessoa de luz, de vida, de gargalhada linda. Não… não me faltam palavras. Que orgulho».

Também Mafalda Marafusta elogiou a amiga: «Coração bonito. Obrigada». Paula Lobo Antunes agradeceu o desabafo: «Thank you, my sweet [Obrigada, minha querida]. Tenho a certeza que estas palavras vão ajudar muita gente. Brave girl [Miúda corajosa]».

Mariana Monteiro e Teresa Tavares também deixaram o seu comentário a esta publicação, com um emoji em forma de coração.

 

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Texto: Patrícia Correia Branco; Fotografias: Arquivo Impala
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