“Assusta-me esta geração”: Laura Dutra critica jovens que fazem cirurgias estéticas

Sem papas na língua, Laura Dutra não poupa a nova tendência de fazer cirurgias estéticas e recorda como foi gravar a última cena da personagem de Maria João Abreu após o falecimento desta.

12 Dez 2021 | 21:30
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Com a novela “A Serra”, na SIC já gravada, Laura Dutra está atualmente a gravar a série da Opto, “A Lista”, onde dá vida a uma personagem muito longe da sua Guida e que lida com as consequências do consumo de drogas. Para trás ficam meses de gravação daquele que considera um dos seus projetos mais intensos na ficção e que ficou marcado pela morte de Maria João Abreu, a Sãozinha da trama e a matriarca do clã que tinha, para além de Laura, António Camelier (Tozé) e Ana Marta Ferreira (Jacinta) no seu núcleo. À TV 7 Dias, a atriz conta que foi duro gravar as últimas cenas da personagem de Maria João Abreu, já sem a presença física desta. “Não foi fácil. Foi uma luta constante desde que ela deixou de estar nos estúdios e era muito estranho gravar nos décor dos Grilo, havia ali uma energia muito saudosa, estranha e nós batalhávamos por cima. Como as cenas também eram sempre alegres, dava uma leveza e nós sentíamos sempre a presença dela. Falei imenso com a Ana Marta Ferreira e com o António Camelier, ela estava ali connosco e aquilo motivava-nos a fazer sempre mais e melhor, porque ela tinha sempre esse espírito. Então nós quisemos não baixar os braços e pensar: ‘ok, a João queria que nós fizéssemos bem e acreditava em nós, por isso vamos cumprir o que ela sempre quis’, recorda revelando também que a parte em que têm de ler a carta de despedida da atriz é intensa porque era em casa e nós já sabíamos o que tinha acontecido e que aquilo era tudo normal, mas foi a altura mais difícil das gravações.”

A escolha deste final para a Sãozinha, que vai para um convento, é no entender de Laura Dutra o melhor possível uma vez que “a Maria João era muito ligada a Deus. Acho que ela gostou e há-de estar aí em qualquer lado a pensar nisso, porque acho que foi a melhor maneira de a tirarem da cena sem haver um drama, nem nada, convertendo-se a Deus. E sendo ela e a família dela muito ligadas à igreja católica acho que não podia ter sido melhor.”

Caminho tóxico”

Durante a conversa que manteve com a TV 7 Dias, durante um evento de Natal da Douglas, Laura Dutra abordou ainda assuntos ligados à beleza. Pouco ligada a cremes de beleza ou maquilhagem por preferir a beleza natural, a jovem diz sempre ter tentado acreditar que “as pessoas são bonitas sem quilos de maquilhagem e amarmos-nos como somos, sem precisarmos de sair à rua com mil e uma coisas na cara. Sempre que tenho borbulhas assumo-as e evito usar coisas que as tapem, porque é normal. Temos de normalizar um bocado esse lado, mas estou cada vez mais curiosa com isto, até porque eu não tenho nada em casa”, não esconde. Mas se os tratamentos de beleza não são uma porta fechada, já o extremo de mulheres ainda novas a recorrer a cirurgias sem necessidade são completamente desnecessários no seu ponto de vista. “Não acho que seja necessário antecipar um processo que se calhar não é necessário na altura. Agora é muito estas cenas dos lábios grandes de das sobrancelhas para cima. Acho que acabam por perder a beleza natural e única enquanto mulher, porque depois ficas reduzida ao mesmo paradigma e eu tento sempre quebrar também isso e incentivar as minhas amigas a meterem menos maquilhagem, a sair só com corretor. ‘Estás com uma borbulha, ok, assumir’, é a vida e acho que temos que nos aceitar como somos. Quanto mais nós falarmos da normalização do corpo da mulher, com todos os defeitos e qualidades, melhor”, analisa.

Uma das causas que Laura aponta para esta nova tendência está relacionada com o facto de as pessoas atualmente se verem com filtros nas redes sociais e depois, na vida real, não se sentirem confortáveis com a aparência real. Já ela, assume-se “um bocado fora das redes sociais. Não uso muito os filtros. Gosto daqueles desenhos que destroem a cara, essas coisas eu acho graça. Mas hoje em dia pode haver mulheres que já nem sequer se sentem bem a tirar uma fotografia sem um filtro e chegamos a um extremo de uma mulher não conseguir olhar para uma câmara fotográfica do telefone sem um filtro, ou seja, com maquilhagem sem um filtro, eu acho que entramos por um caminho mais tóxico desta relação das redes sociais e da beleza e eu tento fugir por causa disso.”

Ainda sobre este assunto da vida das redes sociais, a atriz diz que a culpa é muitas vezes dos pais e dá a educação que teve como exemplo de que é possível mudar as coisas. “Assusta-me esta geração, que se calhar sabe editar um vídeo mais rápido do que eu e se for preciso procurarem uma palavra num dicionário não conseguem. Acho que está-se a perder isso e é um bocado assustador. Acho que os pais, em vez de esbanjarem logo num tablet, devem tentar por o puto a brincar e tentar ir aos métodos antigos. Se foi possível comigo e com a minha geração é possível com a próxima”, conclui.

Natal com sabor brasileiro

Nascida em Portugal mas filha de pais brasileiros, Laura Dutra conta como vai ser a quadra que se aproxima. “Costumo passar o Natal em família, com os meus pais. Às vezes vou para a casa do meu tio em Rio Maior, mas depende, vamos assim saltando, não temos um sítio certo, o que é bom, eu gosto”, diz. Sobre as tradições à mesa, devido às suas origens, “não há cá bacalhau e rabanadas. Normalmente há o peru. Eu sou vegetariana portanto fico só pelas passas. Com a minha madrinha e os meus avós emprestados fazemos sempre o tradicional, o bacalhau espiritual e essas coisas, mas a minha família não é muito tradicionalista, costumamos ter brigadeiros, uma ou outra rabanada porque a minha mãe gosta, mas não é muito comum. Fazemos misturas”, lembra. Tradição só mesmo os pés na areia. “No dia 25 arranjamos sempre uma maneira de ir à praia. Pode ser que eu o meu pai, o meu irmão e a minha mãe. Pode ser que este ano se repita outra vez.”

À semelhança do Natal, o fim-de-ano também é um ponto alto do ano para a atriz que estabelece sempre três metas para o seguinte. “O ano passado foi aprender francês, comecei a aprender. Comecei a aprender música e comprei um sequenciador para começar a passar som e a outra era conseguir assobiar, ainda não consegui, falhei um”, diz a rir. Sem o namorado em Portugal – Laura namora com surfista sul africano Tristan Roberts – a passagem ainda está por decidir. Mas há uma certeza: “Se não tiver a trabalhar posso ir para fora, talvez, para um sítio quente. Ainda não sei é onde”, remata.

Texto: Luís Correia (luis.correia@impala.pt); Fotos: Tito Calado

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